18 de agosto de 2012

Uma estranha comunicação telefônica com o Além




Exponho hoje um caso verificado no ano de 1823, vivido pelo escritor Coelho Neto, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Caso que o levou a converter-se ao Espiritismo e que, publicado pelo “Jornal do Brasil (7/ 06/ 1823), provocou grande alarido nos meios culturais, especialmente porque o célebre escritor era ateu convicto e um combatente obstinado da doutrina kardecista, por considerá-la a mais ridícula das superstições.
Como relata Coelho Neto, numa entrevista intitulada “conversão”, relatou a experiência que tivera e que o impressionara tanto. Assim o escritor relatou o caso: “Depois da morte da pequenina Ester, que era o nosso enlevo, a vida tornou-se sombria. Minha mulher, para quem a neta era tudo, não fazia outra coisa senão evocá-la, reunindo lembranças: roupas, brinquedos, etc.
Júlia... Coitada! Nem sei como resistiu à perda do marido e, seis meses depois, a da filha. Pensei perdê-la. Todas as manhãs lá ia ela para o cemitério, cobrir o pequeno túmulo de flores, e lá ficava horas e horas, conversando com a terra, com o mesmo carinho com que conversava com a filha. Ia, depois, ao túmulo do marido e assim vivia entre mortos, alheia ao mais, indiferente a tudo.
Propus mudarmo-nos para Copacabana. Opôs-de. Insistiu em ficar em casa, em que fora feliz e desgraçada, mas onde perduravam recordações do seu tempo de ventura. Temi que a seduzissem para o Espiritismo. No estado de abatimento moral em que ela se achava, seria arriscado perturbar-lhe a razão com prática nigromânticas. As minhas ordens severas foram obedecidas: Júlia passava os dias no quarto, que fora da filha falecida, e de fora ouvíamo-la falar, rir, contar histórias de fadas, exatamente como fazia durante a vida da criança. Tais ilusões eram bálsamos que aliviavam a alma, como a morfina alivia as dores. Cessada a ilusão, o desespero irrompia mais forte. Era assim.
Uma manhã, porém, com surpresa de todos, Julia apareceu-nos risonha. Interroguei-a. Sorriu. Interroguei minha mulher. Nada. Confesso que cheguei a pensar que ela se interessara por Lucílio, que se tornava mais assíduo nas visitas... Já começava a fazer-me tal idéia quando uma noite minha mulher entrou-me pelo escritório, lavada em lágrimas, e disse-me, abraçando-me, que a filha enlouquecera. “Ela está lá embaixo, ao telefone, falando com Ester”. Espantado perguntei: “Que Ester?” - Ora, ora... A filha...
Encarei-a demoradamente, certo que a louca era ela, não Júlia. Como se captasse meu pensamento, ela insistiu: “-Lá está. Se queres convencer-te, vem até a escada. Poderás ouvi-la.” Fui com minha mulher até a balaustrada do primeiro andar. Júlia falava baixo, no escuro. Não conseguíamos ouvir uma palavra. Era um sussurro meigo, cortado de risinhos. O que me pareceu que a conversa era de amor.
Por que dizes que ela fala com Ester? Perguntei à minha mulher. -
-“Porque ela mesma mo confessou e não imaginas com que alegria”. 
Fiquei estatelado, sem compreender o que ouvia. De repente, numa decisão, entrei no escritório onde havia uma extensão telefônica, levantei lentamente o fone do aparelho, apliquei-o ao ouvido e ouvi. Ouvi minha neta. Reconheci-lhe a voz. Mas não foi a voz o que me impressionou, que me fez sorrir e chorar, senão o que ela dizia.
Ainda que eu duvidasse, com toda a minha incredulidade, havia de convencer-me, tais eram as referências, as alusões que a pequenina voz do Além fazia a fatos, incidentes da vida que conosco vivera. 
Ouvi toda a conversa e compreendi que nos estamos aproximando da grande era; que o finito defronta o infinito, e das fronteiras que os separam, as almas já se comunicam. 
Em resposta à indagação que lhe fez um jornalista sobre como consegue D. Júlia pôr-se em comunicação com o espírito da filha, Coelho Neto respondeu: “Quando Júlia deseja comunicar-se com a filha, invoca-a, chama-a com o coração, com o amor e ouve-lhe imediatamente a voz”.Coelho Neto testemunhou pessoalmente uma comunicação (TCI) por telefone, entre sua filha viva e a sua neta falecida há poucos meses, e não duvidou da verdade dos que estava acontecendo, em sua própria casa.
Este fato fez de um perseguidor ferrenho do Espiritismo, um ardoroso defensor do mesmo, um participante entusiasmado nas tarefas do Centro. Hoje sabemos que o fenômeno da Transcomunicação Instrumental com os Espíritos (TCI) faz parte de estudos e de pesquisa em vários países da Europa, nos EEUU e no Brasil.
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Fonte: Jorge Rizzine, In Escritores e Fantasmas.
Adaptação e postagem de Eva/ZCMC.



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